O sucesso de uma cirurgia plástica depende de muitos fatores e um dos mais importantes é, sem dúvida, a cicatrização, um processo que produz um tecido fibroso para substituir o que foi lesionado. 
Na grande maioria das cirurgias plásticas, e principalmente nas que são consideradas de grande porte, reposicionamos os tecidos, esticamos a pele ou removemos o excesso de gordura da paciente. Isso acaba criando algum nível de trauma nas estruturas do corpo, que precisarão de um tempo significativo para se recuperar. 
Nosso corpo é muito eficiente e, por isso, está preparado para reparar esses traumas por meio da produção de cicatrizes, internas e externas. Entretanto, para que esse processo ocorra tranquilamente, sem complicações funcionais ou estéticas, é fundamental ter uma série de cuidados. 
Inclusive, quando o assunto é cicatrização, os cuidados do paciente no pós-operatório são tão importantes quanto o desempenho do cirurgião durante a cirurgia. E negligenciar esses cuidados pode acabar comprometendo o resultado final. 
Com isso em mente, vou explicar melhor as fases da cicatrização e o que acontece com o corpo em cada uma. Vamos lá?

Como acontece a cicatrização

O processo de cicatrização envolve diversos aspectos bioquímicos e fisiológicos do corpo, que trabalham juntos para a restauração harmoniosa dos tecidos. Ele pode ser dividido entre as seguintes fases:
48h a 72h após o procedimento
Aparecem os primeiros sinais de inflamação: inchaço, vermelhidão e dor. 
Começam os processos de coagulação e vasodilatação e os leucócitos, células de defesa do organismo, entram em ação. O fluxo de sangue na região aumenta. 
72h a 14 dias após o procedimento
Aumenta a vascularização e a infiltração de células especializadas na limpeza da região. Com a área limpa, aumenta também a produção de colágeno, permitindo que a pele comece a se recompor. Esse processo acontece graças ao mecanismo de multiplicação celular. 
De 14 dias a meses após o procedimento
Ocorre a reorganização do colágeno, fazendo com que as cicatrizes fiquem menores, mais resistentes e esbranquiçadas, até as incisões ganharem uma coloração semelhante à pele do seu entorno. 
De 6 a 8 semanas após o procedimento, já está bem forte. Entretanto, somente depois de aproximadamente um ano, a cicatriz terá 70% da resistência da pele normal. 

Os fatores que interferem na cicatrização da cirurgia plástica

Como falei, a cicatrização é um processo complexo e multifatorial. Assim, muitos aspectos podem influenciar na evolução das suas cicatrizes depois de uma cirurgia plástica. 
Os primeiros são os fatores intra-operatórios, que são responsabilidade do cirurgião plástico. No meu caso, faço tudo o que estiver ao meu alcance para que a cicatrização da paciente ocorra da melhor forma possível, utilizando técnica cirúrgica apurada, antissepsia, evitando sangramentos e tensões na cicatriz na hora das suturas. 
Os fatores sistêmicos, ou seja, relacionados ao paciente em si, são avaliados por meio de uma série de exames para sabermos como está o estado de saúde da pessoa. Levamos em conta a presença de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e outros indicadores de que a cicatrização poderá ser alterada. 
O estado nutricional do paciente também é importante, já que indivíduos mal-nutridos têm dificuldade de formar cicatriz pela ausência de proteínas, metais e vitaminas importantes para a produção de colágeno. 
O funcionamento do sistema imunológico também conta, pois a imunidade baixa prolonga a fase inflamatória, aumentando as chances de infecção. 
Alguns tipos de medicamentos também podem prejudicar o processo de cicatrização, motivo pelo qual é importantíssimo listar para o cirurgião todos os remédios que você toma. 
O tabagismo também pode prejudicar muito o processo de cicatrização porque induz à isquemia tissular, ou seja, dificulta a circulação de sangue na região afetada. É por isso que pedimos que a paciente pare de fumar um mês antes da cirurgia e também no mês seguinte!
Vale ressaltar que, depois de certa idade, o processo de reparo do organismo se torna mais lento, o que precisa ser levado em conta quando a paciente é idosa, por exemplo. 
E há, é claro, os fatores pós-operatórios, que dependem, principalmente, das ações do paciente. Como sempre falo por aqui, o cirurgião é responsável por indicar, realizar a cirurgia, orientar o paciente e acompanhar o pós-operatório, mas os cuidados em casa são por conta do paciente, que deve seguir à risca as recomendações médicas.
Esforço físico, exposição solar, má alimentação e falta de higiene das cicatrizes e curativos são fatores que fazem toda a diferença para o resultado final da sua cirurgia. 
O nível de repouso depois da cirurgia depende muito do tipo de procedimento realizado. Porém, cirurgias de grande porte como mamoplastia, abdominoplastia e lipoescultura demandam muito cuidado, especialmente nos primeiros dias. 
Muitas pacientes pensam que esforço físico é só fazer atividade física, mas, na verdade, atividades simples como carregar uma bolsa de mão mais pesada, cozinhar, dirigir e até mesmo o ato sexual podem prejudicar os seus resultados estéticos e até funcionais. Na dúvida, pergunte ao seu cirurgião e pesquise bastante, sempre em fontes confiáveis. 
Já os raios solares podem deixar o local da incisão mais escuro do que a pele ao seu redor, um cuidado que deve ser redobrado se a cirurgia for facial. Além disso, a área afetada tem mais dificuldade de eliminar o calor por meio do suor, o que acaba comprometendo a temperatura corporal e, consequentemente, a cicatrização. 
Infelizmente, algumas pacientes interrompem o tabagismo para fazer a cirurgia e voltam a fumar logo depois, achando que estão livres de riscos. Acontece que fumar reduz a quantidade de antioxidantes, responsáveis pela síntese do colágeno, e essa substância é fundamental durante todo o processo de cicatrização. 
Embora não seja necessário fazer dieta durante a recuperação da sua cirurgia plástica, é importantíssimo evitar alimentos inflamatórios, como aqueles ricos em gordura saturada, fritura e doces em excesso. Melhor evitar o fast-food e comer refeições caseiras e saudáveis. 
Por fim, o local da cirurgia precisa ser higienizado. Algumas pacientes têm agonia, mas isso não pode ser uma desculpa para deixar os microorganismos se acumularem, o que pode acarretar uma infecção. Se você tiver dificuldade de higienizar as incisões sozinha, peça ajuda, certo? 

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